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São Paulo, 15 – O governo federal vai construir muralhas de proteção em todos os presídios federais na tentativa de evitar novas fugas de detentos. A medida foi anunciada ontem pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, como resposta à fuga de dois criminosos do presídio federal de Mossoró. Na madrugada de quarta, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento escaparam da penitenciária escalando a luminária de suas celas até o teto da cadeia. Depois, chegaram ao pátio, onde ocorre uma obra, e pegaram um alicate com o qual cortaram o alambrado da penitenciária e fugiram.
Atualmente, das cinco cadeias federais, só a penitenciária de Brasília tem uma muralha de proteção. O ministro anunciou que as estruturas serão construídas nos outros quatro presídios federais – Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN) – com recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). Além das muralhas, Lewandowski anunciou a modernização do sistema de câmeras dos presídios e controle de acesso às unidades com sistema de reconhecimento facial de presos, visitantes e advogados.
Anunciou ainda reforço no efetivo de policiais penais. Serão convocados 80 agentes já aprovados em concurso para incrementar a segurança do sistema prisional federal. O governo ainda pretende ampliar o sistema de alarme e sensores das penitenciárias. “Desde as primeiras horas do acontecimento estamos ativos, empregando todos nossos recursos para recapturar os fugitivos, apurar as responsabilidades e prevenir a repetição de um episódio como esse”, disse.
Foi a primeira vez que presos conseguiram escapar de um presídio federal, modelo criado em 2006. O fato fez com que o Ministério da Justiça e Segurança Pública afastasse a direção da penitenciária e escolhesse um interventor para chefiar a unidade, o policial penal federal Carlos Luis Vieira Pires. Ele atuava como coordenador-geral de Classificação e Remoção de Presos em Brasília e já foi diretor da Penitenciária Federal em Catanduvas (PR).
O episódio causou incômodo no governo, que recentemente trocou o comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Após a saída do ministro Flávio Dino para assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski assumiu o comando da pasta. Ele fez trocas em alguns cargos, inclusive na Secretaria Nacional de Políticas Penais, que passou a ser chefiada por André Garcia. “Considero que a fuga dos dois detentos é algo que não pode ser minimizado. É algo grave, sem dúvida nenhuma, mas é uma fuga que se deu numa série de coincidências negativas, casos fortuitos que facilitaram a fuga desses dois detentos. Embora preocupante, isso não afeta a segurança dos presídios federais”, argumentou.
Conforme o ministro, os fugitivos encontraram uma série de facilidades que tornaram a escapada possível. Parte das câmeras não estava funcionando adequadamente e algumas luzes estavam apagadas no momento da fuga.
Ainda segundo Lewandowski, Mendonça e Nascimento escalaram a luminária, chegaram ao teto e acessaram o local onde é realizada uma obra, onde pegaram ferramentas. Como o local da reforma só estava protegido por um tapume de metal, os detentos encontraram uma brecha, saíram e cortaram o alambrado de proteção com um alicate recolhido na obra.
“A fuga ocorreu em uma terça para Quarta-Feira de Cinzas, onde, eventualmente, as pessoas estavam mais relaxadas”, afirmou o ministro.
Segundo ele, o presídio tinha diversas falhas em sua construção, o que também tornou a fuga mais fácil. “O presídio estava passando por reforma interna, havia operários dentro da unidade, ferramentas que não estavam devidamente acondicionadas e trancadas. Possivelmente, estavam espalhadas”, descreveu. “Houve uma fuga pela luminária da cela e, em vez de a luminária e o entorno estarem protegidos por laje de concreto, estava protegida e fechada com um simples trabalho comum de alvenaria ”
Conforme Lewandowski, 300 agentes atuam na busca pelos detentos. A polícia trabalha com a hipótese de que os foragidos estejam num perímetro de 15 km ao redor da penitenciária. Câmeras externas não registraram a chegada de veículos para resgatar os prisioneiros e também não foram identificados furtos ou roubos de veículos na região, o que reforça a hipótese de que os criminosos fugiram a pé.
O ministro relatou que nas proximidades da prisão uma casa foi invadida e houve furto de roupas e comida, o que pode ter sido obra dos foragidos. “Por isso não imaginamos que tenha sido algo orquestrado de fora, arquitetado com muito dinheiro, custo, com veículos aguardando, com helicóptero. Foi uma fuga que custou muito barato”, disse. Os foragidos seriam ligados ao Comando Vermelho. Na mesma prisão em Mossoró está o líder do CV, Fernandinho Beira-Mar.